12 junho 2006

Cosmos

Foram semanas de trabalho penoso. A graxa já fazia parte de seus dedos depois de todo aquele tempo concentrado em rebaixar pistão, testar misturas de combustível, mexer e ajustar a carburação, alterar a relação e tantas outras coisas. E agora estava pronto.

Era uma verdadeira obra de arte. Ele não esquecera sequer de alterar o velocímetro, pois é certo que a escala original não seria suficiente para tentar quantificar as melhorias obtidas em sua lambreta amarela. Dada a partida, ouviu-se um poderoso rugido nunca antes gerado por um scooter deste tipo. Reunindo suas forças para erguer a mandíbula, ele se sentou e preparou-se para o que o esperava.


Saiu de mansinho pela porta da garagem, em direção à estrada de Rio Grande para Santa Vitória do Palmar. Uma tremenda reta de 200 quilômetros de comprimento. Cento e cinqüenta!!! Ele quase não acreditou no que o painel dizia e os carros que ficavam para trás confirmavam. Mesmo assim, resolveu passar para a segunda marcha. Duzentos, trezentos e dez, quinhentos e sessenta... Terceira marcha.


As imagens ao seu redor já não se definiam e as que estavam a frente surgiam e desapareciam rápido demais para serem descritas. Sorte estar viajando em um dia de pouco movimento. O ponteiro do velocímetro, cujo fundo de escala ficava em novecentos quilômetros horários, já se partira a muito e o pedaço que sobrara já havida dado três, quatro ou cinco voltas.

Como não podia ver o que se passava, contou com a ajuda de instrumentos para viajar em sua lambreta. Pelo odômetro ele soube que estava chegando ao seu destino e começou a reduzir. Volta após volta pode observar o toco de ponteiro do velocímetro retornar enquanto Santa Vitória do Palmar quase passava.

Descanso, merecido descanso. Pediu uma Coca-cola em um boteco qualquer. Comeu também um pastel. Tentou pagar.

- São novecentos mil reais - disse o dono do bolicho.
- O quê?
- E tá barato!
- Ma-ma-mas isso é tudo que eu tenho - disse o audaz velocista exibindo uma nota de cinqüenta reais e algumas moedas

Sem entender porque, apanhou. Muito.

De volta para Rio Grande, após repetir a aventura da corrida, já estava um pouco melhor. Entrou em um bar cujo dono era seu conhecido, pretendendo dar notícia do que lhe acontecera. Para sua surpresa, não reconheceu seu amigo. A semelhança daquele que estava atrás do balcão com seu velho conhecido de escola era notável, embora fosse vários anos mais velho.

- O Chico está por aí? - perguntou.
- Eu mesmo.
- Brincadeira? O Chico tem a minha idade! - falou atônito o jovem de uns vinte e poucos anos.
- Só se fosse em mil novecentos e noventa e poucos.

Lembrando-se de uma profusão de informações coletadas nas aulas de física, da revista Super Interessante, do Fantástico e do programa Cosmos, qem que vira Carl Seagan explicar os mais inexplicáveis mistérios, a verdade se revelou a ele. Caiu sentado em uma cadeira e seu queixo com a mesma velocidade mais a velocidade com que se deslocou sua mandíbula.

- A lambreta com a velocidade da luz!!!


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3 Comments:

At 5:23 PM, Blogger Everton said...

Por falar em lambreta. Quando é que tu vai atualizar essa bagaça? O_o

 
At 5:24 PM, Blogger Everton said...

Por falar em lambreta. Quando é que tu vai atualizar essa bagaça?

Ah! e meu blog é ponto com e não ponto com ponto br.

Abraço por trás!

 
At 8:40 AM, Blogger Ane Brasil said...

Muito legal! Gostei mesmo.
Lambreta com a velocidade da luz... era tudo o que eu queria!
Sorte e saúde pra todos!

 

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